COURO UNE EMPRESAS
RUSSAS E GOIANAS
Projeto prevê fusão da produção
local com técnica russa, que utiliza sulfato de cromo
para industrialização
O namoro entre russos e goianos poderá
resultar, num futuro próximo, no primeiro empreendimento
conjunto dos dois países em Goiás.
Liderados pelo presidente da Câmara
de Comércio e Indústria Brasil-Rússia,
Antonio Carlos Rosset, um grupo de empresários da Rússia
abriu negociações com donos de curtumes de Goiás
para a instalação no Estado de uma fábrica
para a produção de sulfato básico de
cromo, insumo utilizado no curtimento do couro wet blue.
Inicialmente, estima-se um investimento
na faixa de US$ 1,5 milhão, de acordo com Rosset, apenas
para a compra de máquinas e equipamentos. A Rússia
lidera a produção mundial de sal de cromo e
é o maior exportador daquela matéria prima.
O Brasil, de acordo com Rosset, importa 80% do sulfato consumido
pela indústria de curtume. "Se o projeto vingar,
esperamos ter em três ou cinco anos uma redução
importante naquelas importações", prevê
Rosset.
Ele comandou, nos últimos dois dias, uma missão
comercial, formada por três empresários com interesses
nos setores de couro, carnes ( bovina e suína ), açucar
e álcool, café, bombons, balas, massas e trigo.
Entre anteontem e ontem, a missão visitou, em Goiás,
as empresas Mabel, Emege, Goiás Carne e a usina Anicuns,
do Grupo Antônio Farias, além de reunir-se na
sede da Federação das Indústrias de Goiás
( FIEG ) com empresários do Estado.
O projeto de formação
de uma joint venture é analisado pelo Sindicato das
Indústrias de Curtume do Estado de Goiás ( Sindicurtume
), que pretende, no entanto, ampliar a proposta original,
envolvendo outros Estados do chamado Mercoeste. Segundo o
presidente do sindicato, João Essado, o assunto deverá
ser discutido no próximo dia 14, em Brasília,
durante reunião do Centro das Indústrias de
Curtume do Brasil ( CIBC ). "A idéia é
que, além de Goiás, entrem no projeto os curtumes
do Distrito Federal, de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e
Pará, disse ele.
Estado estratégico
Com 15 curtumes regularmente instalados, Goiás tem
uma capacidade para processar 17 mil peças por dia,
o que indica uma ociosidade entre 23% e 30% diante de um abate
diário estimado em 12 mil a 13 mil animais, conforme
dados do Estado. O consumo mensal de sal de cromo, sempre
de acordo com o presidente do Sindicurtume, aproxima-se de
150 toneladas por mês. O principal fornecedor é
a Argentina, que reexporta a matéria prima russa. Considerando
todo o Mercoeste, o consumo estimado de sulfato de cromo chegaria
a 500 ou 600 toneladas mensais, diz Essado, o que poderia
assegurar maior escala para a futura fábrica.
Rosset ressaltou, durante entrevista concedida ontem, em Goiânia,
que há uma grande possibilidade de que a fábrica
seja mesmo construída em Goiás, diante da posição
estratégica do Estado na agropecuária.
O rebanho goiano, calculado entre 20 milhões e 22 milhões
de cabeças, supera todo o plantel bovino russo, que
segundo Rosset atingiria hoje alguma coisa em torno de 20
milhões de cabeças. Esta nossa missão
não é política e tem objetivos, estritamente
comerciais. Por isso considero que a visita a Goiás
tem um caráter estratégico para os interesses
russos."
O papel da Câmara de Comércio e Indústria
Brasil-Rússia, que assinou ontem um convênio
de promoção comercial com a FIEG, é patrocinar
a aproximação entre empresários dos dois
países, eliminando uma etapa de intermediação
nas transações comerciais entre os dois lados.
Fornecimento
Nesta linha, a Câmara espera receber
em 10 ou 15 dias uma resposta concreta das usinas de Goiás
a proposta de compra de açucar demerara e VHP ( branco
) apresentada pela missão que poderá resultar
na formalização de contratos anuais de fornecimento.
Os volumes, preços e condições de venda
ainda estão em aberto, mas há uma possibilidade
concreta de negócio, afirmou Rosset. Na área
de carnes bovina e suína, a Câmara pretende oferecer
seu apoio para incrementar as exportações do
Estado. Rosset aventou também a possibilidade de negócios
com as empresas Mabel e Emegê, fabricantes de farinha
de trigo e massas, biscoitos e doces.
Importação
Neste caso, a transação
somente ocorreria depois de o governo brasileiro aprovar a
importação de trigo da Rússia. "Nosso
país já importa bolachas e bolos de empresas
paulistas. Tào logo seja aprovada a entrada do trigo
russo, poderemos ampliar a operação, numa via
de mão dupla", adiantou Rosset. Além do
trigo a Rússia tem interesse em aumentar suas vendas
de uréia e fertilizantes.
O intercâmbio comercial entre Goiás
e aquele país somente tornou-se favorável ao
Estado no ano passado, quando houve um superávit de
US$ 21,3 milhões. Setimo maior mercado, a Rússia
comprou US$ 15,592 milhões ( 5% do total ) nos primeiros
cinco meses deste ano-crescimento de 26% em relação
ao mesmo período de 2002.
As importações de produtos russos, matérias-primas
para a fabricação de sulfato de amônio
( utilizado na indústria de fertilizantes ) consumiram
US$ 7,881 milhões, crescendo 127%. O saldo comercial
entre Goiás e Rússia recuou 13,4%- US$ 7,711
milhões.
Lauro Veiga Filho de Goiânia
Gazeta Mercantil
27 de Junho de 2003
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