O
INTERCÂMBIO COMERCIAL ENTRE O BRASIL E A RÚSSIA
Lenina Pomeranz
O intercâmbio comercial entre
o Brasil e a Rússia ainda é insignificante,
frente às potencialidades que ambos os mercados representam
um para o outro.
Com efeito, tomando-se os dados estatísticos disponíveis,
observa-se que o valor das exportações brasileiras
para a Rússia nos anos 90 representaram em torno de
1,0 – 1,5% das importações totais russas,
enquanto as importações brasileiras daquele
país não ultrapassaram 0,5% das suas exportações.
Em relação às exportações
totais do Brasil, as que foram dirigidas para a Rússia
no mesmo período também não representaram,
em média, mais de 1,0-1,5%, enquanto as importações
da Rússia, tiveram uma participação sobre
o total das importações brasileiras, em termos
médios, inferior a 1,0%.
Este intercâmbio é, também, ainda muito
errático, variando sensivelmente de ano para ano. Assim,
tomando-se a série de exportações brasileiras
para a Rússia, entre 1995 e 2001, observa-se que o
seu valor passa de 569,3 milhões de US$ em 1995 para
465,7 milhões de US$ em 1996 ( - 18,19% ), cresce em
1997 para 760,6 milhões de US$ ( + 63,31%) para cair
novamente em 1998, ano em que alcança 647,3 milhões
de US$; em 1999 o seu valor cresce novamente (+ 15,29% ),
para 746,3 milhões de US$, para cair em 2000 para 423
milhões de US$ ( - 43,32% ), curiosamente no ano em
que as importações russas começam a recuperar-se,
depois da grande queda que apresentaram como decorrência
da desvalorização do rublo em 1998. Em 2001,
as exportações brasileiras mais que dobram em
relação ao ano anterior. Esse comportamento
é um pouco distinto no caso das importações,
uma vez que elas se apresentam em queda em praticamente todos
os anos entre 1995 e 2001, exceção dos anos
de 1999 e 2000; com a recuperação do valor das
importações nesses dois anos, alcançou-se
em 2001 um nível de importações ligeiramente
superior ao que se tinha em 1995 ( 464,3 milhões de
US$ em 2001 e 409,5 milhões de US$ em 1995 ).
Uma análise mais detalhada dos números, para
tentar explicar o comportamento descrito, revela que as pautas
das exportações e importações
nesse intercâmbio concentram-se em alguns poucos produtos;
segundo os dados relativos ao período janeiro-abril
de 2001 e janeiro-abril de 2002, as exportações
brasileiras concentraram-se fundamentalmente em açúcar,
carnes de suíno e aves, fumo e café solúvel
( 94,52% do total, nos quatro meses de 2001 e 86,78% nos quatro
meses de 2002 ), observando-se queda formidável na
exportação de açúcar e crescimento
extraordinário da exportação de carnes
entre os dois períodos considerados. As importações,
por sua vez, nesses períodos concentraram-se em fertilizantes
e produtos siderúrgicos, somando 71,59% do total das
importações nos quatro meses de 2001 e 84,36%
do seu total nos quatro meses de 2002. Isso, mesmo se considerando
a queda de cerca de 40% das importações de fertilizantes
entre os dois períodos ( de 84,6 milhões de
US$ em 2001 para 53,2 milhões de US$ em 2002 ), que,
aliás, contribuiu muito para a queda geral das importações
brasileiras observada : de 109 milhões de US$ em janeiro-abril
de 2001 para 60,6 milhões de US$ em janeiro-abril de
2002. O comportamento dos fertilizantes, de certa forma, permite
ilustrar a influência que pode exercer, sobre o comportamento
global do intercâmbio comercial, a sua concentração
em alguns poucos países.
Mas restringir-se a essa explicação parece insuficiente.
Entrevistados alguns empresários que trabalham nessa
área, para ouvi-los sobre possíveis razões
para o baixo volume e as flutuações do intercâmbio
comercial com a Rússia, o que parece ser um grande
problema é o fato de a maior parte das transações
serem realizadas através de intermediários internacionais,
traders multinacionais, particularmente no que se refere às
commodities exportadas. Assim, como exemplo, o açúcar
é transacionado por duas grandes multinacionais européias,
o café, por empresas alemãs, o concentrado de
suco, através da Finlândia e até a pimenta
do reino, através da Holanda. O domínio do comércio
por essas empresas decorreria não só de sua
grande capacidade comercial, como ainda pelo fato de que ambos
os mercados são desconhecidos pelos produtores dos
dois países e pelas desconfianças que isso gera.
Há ainda a considerar que a Rússia, não
obstante vir se transformando rapidamente no último
decênio, a ponto de ser já considerada pela União
Européia, com apoio dos USA, uma economia de mercado,
ainda tem problemas de ajustamento estrutural, que constituem
base para desconfiança. É o caso do setor bancário,
de cuja reforma vem se falando, mas ainda bastante frágil
para impedir que negócios internacionais sejam feitos,
sem que sejam confirmadas por bancos europeus de primeira
linha, as cartas de crédito emitidas por bancos russos.
No entanto, perspectivas de desenvolvimento comercial existem
e são muito promissoras, se adotadas estratégias
corretas. Uma delas, que já vem sendo com êxito
implementada, na promoção das exportações
de café, é a de associação com
produtores russos, em diferentes tipos de joint ventures.
Outra, que vem sendo utilizada na promoção das
exportações de carnes, para as quais o mercado
russo apresenta-se extremamente favorável ao Brasil,
é a de formação de pools ou acordos entre
exportadores/entidades de produtores desejosos de aproveitar
as oportunidades existentes. Naturalmente as diferentes estratégias
não se excluem; ao contrário, podem somar-se.
E a elas podem ainda ser acrescentadas outras, para diversificar
as pautas comerciais.
Para ajudar, há o enorme esforço do governo
brasileiro dirigido ao incremento das exportações,
de um modo geral, e para o qual devem, sem dúvida,
ser assinaladas as possibilidades que a Rússia oferece
como novo promissor mercado para os produtos brasileiros;
e os esforços que vêm sendo desenvolvidos pela
Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Rússia,
para a assinatura de acordos comerciais com as Câmaras
análogas das regiões mais importantes da Rússia.
Lenina Pomeranz
é professora
da Fac. de Economia, Administração
e Contabilidade da USP. Pesquisadora
do GACINT-Grupo da Conjuntura
Internacional da USP.
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