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Entrevista com o EX-MINISTRO
MARCUS VINICIUS PRATINI DE MORAES- PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DOS EXPORTADORES DE CARNE BOVINA- ABIEC E PRESIDENTE
DO CONSELHO DE FOMENTO EMPRESARIAL BRASIL-RÚSSIA.
1- Qual a situação atual do embargo russo, e quais
medidas estão sendo adotadas pelas autoridades brasileiras,
e em especial pela ABIEC, para resolver esse impasse?
As negociações com as autoridades sanitárias
da Federação Russa não evoluíram tão
bem, como se esperava. O embargo russo sobre as carnes bovina e
suína continua em vigor. Houve, no entanto, um avanço
no que se refere às carnes de aves. As autoridades russas,
em 07 de fevereiro corrente, suspenderam o embargo para os produtos
exportados para aquele país à base de carne de aves,
com restrições somente aos Estados do Amazonas e Pará.
Os referidos Estados não são exportadores de carnes
de aves, portanto a medida significa a reabertura total do mercado
russo para o setor avícola.
As autoridades brasileiras têm envidado todos os esforços
no sentido de reverter o atual quadro que em muito prejudica as
exportações do complexo de carnes do Brasil. O setor
exportador de suínos, por exemplo, exportava, até
o ano passado, 63% do total produzido no Brasil para a Rússia.
O Embaixador Celso Amorim, Ministro das Relações
Exteriores e o Ministro Roberto Rodrigues, da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento, vêm realizando reiteradas gestões
diplomáticas e, principalmente, técnicas junto ao
Governo Russo para que as autoridades sanitárias do Brasil
e da Rússia consigam, juntas, encontrar uma solução
para o impasse que já se arrasta há seis meses.
No final do corrente mês, a Secretaria de Defesa Agropecuária
(SDA), conduzirá nova missão técnica à
Rússia, com vistas a esclarecer – finalmente –
todos as questões que as autoridades sanitárias russas
ainda solicitaram ao Brasil em complemento às informações
já enviadas imediatamente após o anúncio tempestivo
do embargo.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras
de Carnes (ABIEC) entende que por se tratar de assunto de Estado
a solução para a questão do embargo às
carnes brasileiras passa, obrigatoriamente, por entendimentos entre
os dois Governos. A ABIEC, portanto, não tem qualquer ingerência
ou participação no processo negociador.
2- O rebanho russo é de mais ou menos 20 milhões de
cabeças, insuficiente para abastecer o mercado interno russo.
Sabemos que de janeiro a dezembro de 2004, ou seja, num período
de um ano, a carne aumentou em 30%. Qual a lógica do governo
russo em manter esse embargo, manifestamente prejudicial aos consumidores?
Existem divergências entre as próprias lideranças
do Governo da Federação Russa. Acordos bilaterais
com a Europa e os Estados Unidos da América.
Entretanto, especificamente relacionada à carne bovina, torna-se
prejudicial pelo preço e qualidade do produto ofertado pelo
Brasil.
3- No final do ano passado, técnicos fitossanitários
do Ministério da Agricultura da Rússia visitaram o
Brasil. Quais foram os resultados dessa missão?
Até o início deste mês o Governo brasileiro
não havia recebido nenhuma sinalização quanto
aos resultados da visita dos técnicos brasileiros à
Rússia, nem quanto aos documentos enviados àquela
Federação, logo após o anúncio do embargo.
Na semana passada, simultaneamente com a liberação
das exportações das carnes de aves, as autoridades
russas informaram que, maiores esclarecimentos sobre a situação
epidemiológica do Brasil seriam necessários para a
revisão do embargo às carnes bovina e suína.
Nesse sentido, uma missão da Secretaria de Defesa Agropecuária
manterá encontros técnicos com as autoridades sanitárias
russas no final do mês de fevereiro corrente.
4- Qual foi o volume de exportações de carne do Brasil
para a Rússia no ano de 2004?
Em 2004, o Brasil exportou para a Federação da Rússia
US$ 239.107 milhões em carne bovina “in natura”,
com o volume total de 227.043 toneladas ou em equivalente carcaça.
A variação relativa entre os anos de 2004 e 2003 foi
de 138,29%, em valor, e 84,60%, em quantidade.
Sobre o valor total das exportações brasileiras de
carnes, as exportações para a Rússia configuraram,
em 2004, 12,18% do valor total e 16,69% da quantidade.
5- O volume de carne que o Brasil deixou de exportar para Rússia
foi direcionado para quais mercados?
Em que pese a Rússia tenha figurado no ano passado como
o maior mercado consumidor de carne bovina brasileira, do total
exportado pelo setor, somente 16,69% tem como destino aquele País.
Tendo em vista que o Brasil, atualmente, exporta carne bovina para
mais de 143 mercados ao redor do mundo (altamente pulverizado),
a concentração de esforços para re-alocar o
volume de carne bovina que não está sendo consumida
pela Rússia não tem repercutido, até o presente
momento, em significativas perdas econômicas para o setor.
Além disso, o Brasil abriu e expandiu novos mercados consumidores
como: i) Egito; ii) Irã; iii) Hong Kong; iv: Filipinas; v)
Argélia; vi) Venezuela; vii) Líbia; e viii) mais recentemente
China, entre outros, que ajudaram a preencher o espaço deixado
pela Rússia.
6- Durante a visita do Presidente Vladimir Putin ao Brasil, o Presidente
Lula apoiou oficialmente a entrada da Rússia na OMC. Entretanto,
a Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo-FIESP posicionou-se contrariamente aos planos russos de ingressarem
na OMC. Na sua avaliação, o governo brasileiro acertou
em apoiar a Rússia?
Do ponto de vista da pecuária brasileira, o apoio oficial
do Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula
da Silva, é positivo.
Isso se justifica pelo fato de que, após a acessão
da Federação Russa ao sistema multilateral de comércio
da OMC, aquele país deverá adotar mecanismos mais
transparentes na condução do comércio internacional,
incluindo um mecanismo mais efetivo e confiável para a solução
de controvérsias, como as que hoje enfrentamos.
Ademais, no âmbito da Organização Mundial do
Comércio, a Rússia terá que incorporar novas
regras de comércio internacional que restrinjam os subsídios
à exportação, melhore o acesso a mercados,
limite o uso de salvaguardas comerciais, reduza o nível apoio
doméstico, e empregue disciplinas contra as proibições
e restrições às exportações,
de acordo com o Acordo sobre Agricultura da OMC.
A Rússia deverá seguir as regras contempladas pelo
Acordo sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias
e Fitossanitárias daquele órgão multilateral
de comércio internacional.
Um dos principais Artigos do referido Acordo prevê que medidas
que constituam meios arbitrários ou de discriminação
injustificada entre os Estados Membros – que afetem direta
ou indiretamente o comércio internacional – não
podem ser adotadas. Nenhuma medida poderá ser mantida sem
a comprovação satisfatória do ponto de vista
de evidências técnicas e científicas comprovadas
e baseadas em análise de risco realizada por relevantes organizações
internacionais, como a Organização Mundial de Saúde
Animal (OIE).
A questão da transparência também é extremamente
relevante, uma vez que a Rússia deverá notificar alterações
no seu sistema de controle sanitário e fitossanitário,
sempre que isto ocorrer.
7- O senhor comentou sabiamente no "Seminário Brasil-Rússia:
o Fortalecimento de uma Parceria", que russos e brasileiros
fazem pouco marketing. Os russos não divulgam seus produtos
no Brasil e da mesma forma os empresários brasileiros desconhecem
bastante a cultura russa. O senhor é presidente de uma entidade
que tem registrado sucessivos recordes de exportações.
A carne brasileira tem sido destaque na imprensa internacional pela
sua qualidade, e muito disso se deve à sua atuação.
Como Presidente do Conselho Empresarial Brasil-Rússia e ex-Ministro
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior, Minas e Energia e do
Planejamento, além de profundo conhecedor da Rússia,
quais seriam as suas sugestões para que haja mais participação
das empresas russas na economia brasileira e vice-versa?
Um melhor relacionamento comercial entre países advém
de um melhor conhecimento mútuo. Portanto cremos que é
preciso melhorar a comunicação entre Rússia
e Brasil.
A primeira medida seria um maior esforço para conhecer e
compreender as características culturais de cada país,
para que o marketing seja mais focado no consumidor-alvo, respondendo
aos seus reais anseios e necessidades. Uma pesquisa sobre hábitos,
costumes, gostos e tendências ajudaria muito neste processo.
A segunda ação seria estudar os concorrentes locais
para cada produto, para que se crie uma estratégia competitiva
que não vá de encontro com interesses e o bem-estar
das empresas nacionais, encontrando um nicho de mercado ainda aberto
para empresas internacionais.
A partir disto, deve haver uma adequação dos produtos
a esta realidade encontrada e a construção de preços
competitivos em cada mercado.
Com isto em mente, cada país poderá desenvolver ações
de promoção de seus produtos para os consumidores
estrangeiros. Alguns exemplos são feiras setoriais, anúncios
em revistas especializadas, matérias na TV, alianças
com varejo, propaganda e promoção em ponto de venda,
etc.
Um exemplo de efetiva ação de promoção
é o Projeto Imagem, que consiste em trazer para o país
um grupo de jornalistas de expressão nacional (formadores
de opinião) do país-alvo e mostrar o produto "in
loco", desde sua produção até a sua finalização,
criando uma imagem de transparência e confiabilidade nas qualidades
apresentadas dos produtos.
Este esforço, notadamente, gera um número considerável
de notícias sobre o produto, que se dissemina por todo o
território que se deseja atingir.
8- Quais as perspectivas para os exportadores de carne em 2005?
Todas as perspectivas para o ano de 2005 indicam um ano delicado
tanto para a pecuária quanto para a agricultura brasileira,
em geral.
Contribui para esta avaliação a reduzida linha de
crédito do Plano Agrícola e Pecuário 2004/2005
a juros fixos em 8,75%. Com o crescimento da safra e da produção
pecuária o produtor necessita de maior volume de recursos
para a comercialização de forma a atenuar a sazonalidade
de preços na safra e entressafra.
Além disso, a variação cambial desempenha papel
fundamental para todo o setor exportador brasileiro. A tendência
baixista do dólar – variando entre R$ 2,58 e R$ 2,61
– seguramente, as exportações serão diretamente
afetadas.
No entanto, com otimismo, mantenho a esperança de que o ano
de 2005 trará resultados positivos para o setor exportador
de carne bovina, principalmente devido à alta capacidade
de adaptação dos frigoríficos exportadores
a adversidades como as atuais, fruto da tendência –
gerada nos últimos anos – de se profissionalizar o
referido setor.
Tendo em mente o atual cenário, acredito que os resultados
de 2005 deverão superar com um ligeiro aumento do valor exportado
no ano de 2004. A fase da conquista de mercados já foi superada
no ano passado. Neste ano o propósito do setor exportador
de carne bovina é o de aumentar o valor agregado dos seus
produtos e melhorar a renda dos produtores que comercializam no
mercado internacional.
A conquista de novos mercados que remuneram melhor os nossos produtos
e um trabalho intenso de “marketing” da carne brasileira
– “Brazilian Beef” – nos mercados já
consolidados surtirão efeitos positivos no sentido de elevar
os preços do produto nacional.
No que se refere às exportações para a Federação
Russa, acredito que pela gestão do Governo juntamente com
o setor privado, re-estabeleça-se a viabilidade de exportação
para a aquele importante mercado.
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